Desde os tempos remotos, na luta pela sobrevivência, os mais fracos
foram afastados da competição comum pelos mais fortes. Isso, então, os fez
pensar num modo de evitarem uma luta física e desigual, adotando outra espécie
de arma compensadora e capaz de ajudá-los à distância do adversário invencível.
Através do metabolismo do éter-físico e sob a sugestão dos espíritos
maquiavélicos, o processo de enfeitiçamento foi-se delineando palmo a palmo, e
evoluindo nos sucessivos experimentos ritualísticos. Os feiticeiros, imbuídos
do seu poder excepcional sobre o mundo oculto, então exercitaram-se até
conseguirem os primeiros êxitos sobre os adversários mais fortes e sem
necessidade de enfrentá-los pessoalmente.
Ante a dificuldade de mentalizar a figura dos guerreiros adversários e
transformá-los em alvo direto das forças ocultas demolidoras, os primeiros
bruxos aventaram a idéia de confeccionarem bonecos de pau e de barro, a fim de
eles acumularem e depois retratarem a descarga eletromagnética destrutiva
mobilizada durante o processo de bruxaria. A tribo reunia-se sob a pujança da
Lua Cheia, cuja ação hipnótica e magnética alvoroça e eriça o lençol de fluidos
astralinos na adjacência da Terra, e os pajés alinhavam os bonecos
representativos dos inimigos impossíveis de serem derrotados numa luta física.
Elevava-se o cântico guerreiro vibrando sob poderoso "mantran"
coletivo, na sonoridade lúgubre, obstinada e implacável de mau agouro; em
breve, forjava-se a egrégora guerreira alimentada pela substância mental
virulenta, qual gigantesca ameba estendendo os seus pseudópodos fluídicos em
direção às vítimas eleitas para o holocausto traiçoeiro.
Cada membro da tribo, minuto a minuto, noites após noites, descarregava
a sua raiva e o seu ódio sobre o boneco esculpido na madeira ou modelado no
barro, catalisando as suas forças destrutivas sob a excitação eletrizante da
cerimônia bárbara e belicosa. Os guerreiros novos substituíam os guerreiros
velhos e cansados; as pragas e maldições vibravam desde o romper do Crescente
até o máximo apogeu da Lua Cheia, cujos fluidos maléficos se despejavam em
cargas demolidoras sobre os bonecos representativos da tribo adversa. A fúria
selvagem bramia acicatando o éter-físico do ambiente virulento, transformando-o
na ponte oculta a transferir a carga mortífera gerada pela peçonha da mente
vingativa.
Ao longe, repousando no silêncio da noite, a tribo adversa e
desprevenida, confiante na sua força física e desprezando o recurso mórbido do
enfeitiçamento dos fracos, ignorava a carga tenebrosa que se gerava num
crescendo obstinado e a fluir pela cortina do éter, qual serpe em ondulações
assustadoras. Então a tragédia começava, lenta mas inexoravelmente; os
guerreiros fortes e sadios entonteciam e tropeçavam em aflitivos movimentos
claudicantes, para depois caírem prostrados e exauridos por um vampirismo
fluídico com que jamais logravam atinar. Anêmicos e vampirizados por vigoroso
"quebranto", tombavam ao solo como os arbustos decepados pela foice
maligna de um gênio perverso. Em verdade, eram aniquilados por um punhado de
bonecos de pau e de barro, grotescos e ridículos, mas que semeavam a morte
inglória pela força do ódio e da vingança nutridos pelo fabuloso poder da mente
humana!
Mas como tudo evolui no orbe terráqueo, os antiquados bonecos de madeira
ou de barro também sofreram o desprestígio que é próprio das coisas superadas E
os feiticeiros modernos os substituíram pelo.eficiente boneco de cera-virgem,
de maior eficiência magnética e supercarregado do néctar das flores acumulado
no mel, que se transforma numa fonte energética capaz de abater à distância um
grande guerreiro civilizado!
Ramatís - Livro Magia de Redenção.
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