Muito
se tem escrito sobre o espírito Orixá Mallet, palavras orquestradas por grandes
estudiosos, mas ainda notam-se lacunas que induzem ao raciocínio.
No
cenário da estruturação da Umbanda no Brasil, o espírito Orixá Mallet foi um
dos importantes espíritos designados para esta missão, e desceu em terra pela
Umbanda em 1913, cinco anos após o Caboclo Sete Encruzilhadas ter se
manifestado, e por sua vez, o Caboclo Canguruçu, de quem pouco se tem noticia,
mas sabe-se que era um caboclo curador, manifestava-se no seculo XIX , na
região norte do país, ladrilhando os caminhos que dali em diante seriam
traçados.
A
Umbanda trazida pelo Sr. Zélio, foi como uma nova versão da 3ª Revelação, uma
estratégia da espiritualidade nos despertar para a mensagem de Amor e Paz como
caminho iluminativo. O Espiritismo havia descambado para o intelectualismo
excessivo e a Espiritualidade tinha pressa em promover o saneamento das almas e
a pacificação dos sofrimentos e desigualdades seculares, trazidos pelas
guerras, atrocidades, escravidão.
Veio
a Umbanda, diferente do Espiritismo, por ter um vigor atuante, chamar à razão e
à responsabilidade de cada um, sem sombra de paternalismo, sem dogmas de processos
infernais ou paradisíacos, senão um cumprimento da Lei Maior.
Com
o surgimento do espírito Orixá Mallet, rapidamente ele alcançou lugar destacado
no panteão da Umbanda, passando trabalhar nos trabalhos de desmanche e magia, e
sendo respeitado pelas outras entidades do Sr. Zélio, o Pai Antônio e o próprio
Caboclo das Sete Encruzilhadas. Trabalhava com animais em seus trabalhos, mas
os mantinham vivos. De um “temperamento” forte, tanto podia promover
materializações de borboletas, proteger pombas, como atirar pedras em médiuns,
como o fez na cachoeira e inusitadamente carregar por meio quilometro até a
linha da água do mar, o Sr. Benjamim Figueiredo, que depois disso abriu a Tenda
Mirim.
O
Irmão Cláudio Zeus, explica em um estudo sobre a Umbanda Branca e Demanda, da
época onde são relatados os feitos do espírito Orixá Mallet, que considerava-se
orixá uma entidade de hierarquia superior e que representava, em missões
especiais, de prazo variável, o alto chefe de sua linha. Continuando, Zeus
relata que na linha de pensamento desta Umbanda Original, os Orixás eram
espíritos humanos com certas peculiaridades em essência e não elementos ou
elementais da Natureza, e sequer ancestrais divinizados, conceito este que se
estende até hoje em boa parte das Umbandas não africanizadas. Mas essas
considerações poderão ser desenvolvidas em um outro estudo, tão extenso se
tornou, devido as nuances variadas que a Umbanda hoje manifesta, tanto pela
evolução do pensamento, como pelas vivencias ocorridas, consequentemente à sua
constante expansão, desde estas primeiras histórias aqui relatadas.
Leal
de Souza, em seu livro, relata que em uma reunião fechada, com cerca de 20
pessoas, o espírito Orixá Mallet começou a traçar pontos no chão, e levou a mão
até eles, e dali se materializaram duas borboletas amarelas, em seguida tocou a
mão do próprio Leal de Souza depositando ali a terceira borboleta, dizendo que
ele veria a borboleta ao chegar em sua casa, e também em seu trabalho. E assim
foi, chegando tarde da noite dos trabalhos mediúnicos, encontrou a borboleta
amarela ao chegar em casa, e no dia seguinte, dentro do local onde trabalhava,
seus colegas, surpresos, constataram que uma borboleta amarela pousava sobre
sua cabeça.
Mais
adiante, na mesma obra, há o relato que o autor se dirigiu ao Rio Macacu, no
município de Cachoeiras de Macacu, levando duas pombas brancas, segundo fora
solicitado, ao chegar lá, o espírito Orixá Mallet riscou um ponto no chão e as
aves ficaram como que imantadas ao local. Depois disso, o espírito comentou que
os animais não suportariam a carga que estavam sendo movimentadas, e enviou as
pombas até a outra margem, e lá elas ficaram, até o final do trabalho, quando
então voltaram por sua vontade, são e salvas.
Sobre
o episódio da pedra o que ocorreu foi o seguinte:
“João
Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge, mais uma das tendas fundadas pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao fazer sua primeira visita a Zélio em
Cachoeiras de Macacu, se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para crer.
O
Orixá Malet (da vibração de Ogun) pegou uma pedra à beira do rio e acertou bem
no meio da testa de Severino que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os
amigos de socorrê-lo e pediu que esperassem minutos depois Severino atravessou
as margens do Rio Macacu já incorporado de Ogun Timbiri, com quem trabalharia à
gente da tenda citada. ”
(Fonte:
Revista Espiritual de Umbanda – Nº 08)
Muito
se fala sobre a oferenda utilizando carne de porco, o que parece ir contra os
princípios trazidos pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. E entrevista para
esclarecer este assunto, a neta do Sr. Zélio, a Sra. Lygia nos esclarece no
Blog do nosso irmão Cláudio Zeus (Umbanda Sem Medo):
“O
ritual para elaboração da comida de Ogum foi trazido por Orixá Mallet (uma das
entidades que atuavam junto ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, também através
de meu avô) que seria obrigatoriamente um sarapatel. O sarapatel era feito com
os miúdos de um porco castrado, por isso usava-se o animal com esta
característica. Ele era morto por uma pessoa de fora do terreiro, fora da
TENSP, habilitado e contratado para tal. A carne era usada como alimento para
qualquer refeição.”
Este
relato afasta completamente a afirmação de alguns, quanto ao sacrifício de
animais, que não era fato, em relação a esta oferenda. Ela ainda afirma que nos
dias atuais, tal oferenda é comprada em mercados, junto com os ingredientes que
são utilizados nas demais oferendas.
A
respeito de Benjamim Figueiredo e sua iniciação de forma um tanto diferente,
pois carregado por meio quilometro pelo espírito Orixá Mallet, foi lançado ao
mar, quando o espírito afirmou então que ele estava apto para trabalhar e ser
dirigente da tenda que foi depois chamada Tenda Espírita Mirim (TEM). Abaixo, o
relato citado por Pedro Kritiski (Blog Registro de Umbanda), que por sua vez
extraiu de antigo site da TEM:
“O
Kardecismo veio para o Brasil através da família Figueiredo. Em 1920, esta
família realizava sessões de Kardec na Rua Henrique Dias nº 26, na Estação do
Rocha, Rio de Janeiro.
No
dia 12 de Março de 1920, o Médium Benjamim Gonçalves Figueiredo, teve a
primazia de incorporar, pela primeira vez, o Caboclo Mirim, Grande Mestre que
veio para nos ensinar a Escola da Vida, que poucos conheciam na época.
Após
a sua chegada, O Caboclo Mirim anunciou que aquela seria a última Sessão de
Kardec e que as próximas Sessões passariam a ser de Umbanda. Em uma de suas
mensagens ele disse que a partir daquele momento a TENDA ESPÍRITA MIRIM seria
reconhecida mundialmente e advertia que a mesma seria uma Organização única no
gênero em todo o Brasil, cujo método seria adotado por outras Tendas, até mesmo
em outros Estados da Federação, o que, mais tarde, teríamos a oportunidade de
comprovar.
O
Caboclo Mirim, Espírito Missionário, preparou a antena receptiva daquele que
seria o intermediário do seu programa, de suas ordens e de suas mensagens, ou
seja, o seu Médium, que preservaria a sua missão e que cumpriria,
religiosamente, a sua tarefa.”
Chamado
de “Capitão de Demanda’, de acordo com Leal de Souza, era emissário de Ogum,
trouxe dois auxiliares, dois malaios como ele, e alem de cinco falanges do Povo
da Costa ,diz-se que haviam seis falanges do Oriente e arqueiros de Oxóssi,
muitos da falange de Seu Ubirajara. Nas tendas fundadas sob a inspiração do
Caboclo das Sete Encruzihadas seguia-se a aceitação de médiuns da casa somente
após o ritual da fita vermelha , ritual este comandado pelo Orixa Mallet.
Leal
de Souza ainda relatou em “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”
que espírito Orixá Mallet foi um malaio na sua última encarnação e veio de
formosa ilha do Oriente, tendo sido ali príncipe reinante. Por coincidência ou
não, a Malásia tem como limite ao norte, a ilha Formosa, ou Tawain, e a região
era rota de comércio, onde passavam naus portuguesas, e inclusive há
construções portuguesas no local, datando dos primeiros anos de 1600. Era uma
região onde predominantemente seguiam o Alcorão, mas também havia influência de
budistas e tibetanos.
O
interessante é que não se sabe muito do trabalho do Povo da Costa e o Povo do
Oriente que trabalhou com o espírito Orixá Mallet. Pressupõe-se que eles tinham
uma missão naquele momento de implantação das tendas, e prosseguem no astral,
irradiando sua luz, porém no anonimato.
Sob
a irradiação de Ogum, coincidentemente com a atuação e influência do espírito
Orixá Mallet, também em terra se manifestou o Sr Marabaroô, exu da coroa do Sr.
Zélio, que era cuidado por dona Zilca , irmã do Sr. Zélio e daí em diante a
linha de trabalho dos Exus se efetivou de maneira discreta na Tendas, e aos
poucos foram se manifestando mais entidades desta linha chamada de esquerda,
até que hoje há giras só para seu trabalho, mas isso não ocorre na T.E.N.S.P.
Nesta Tenda, independentemente de que gira esteja e precise do trabalho de Exu,
estes espíritos descem (sempre em médiuns mais antigos da Tenda) fazem o que
tem que fazer e nem mesmo o assistente percebe que foi cuidado por um Exu,
quanto mais o publico presente. Diferente que muitos falam na T.E.N.S.P. existe
sim giras de Exus, mas estas são fechadas para o publico.
A
história não registra quando estes espíritos que tanto atuaram nos primórdios
da Umbanda desceram em terra pela última vez. Sabe-se que o espírito Orixá
Mallet era um espírito que exauria as forças do franzino corpo de seu médium.
Falava pouco, quase somente por gestos, ou era Pai Antônio que trazia suas
ordens e ensinamentos nos trabalhos de demanda e estabelecimento de disciplina.
Foi a última entidade a se manifestar e a primeira a parar, através do Sr.
Zélio. Contam os estudiosos que assim foi devido a sua grande elevação, de alta
escala vibratória. Seria o espírito Orixá Mallet mais iluminado que o Caboclo
das Sete Encruzilhadas? Ou apenas suas missões já eram previstas pela
Espiritualidade, o Caboclo com sua tendência a anunciar, organizar e
evangelhizar, enquanto que o espírito Orixá Mallet agiria disciplinarmente, na
proteção, segurança, combatendo o mal e as demandas, ações estas que se
refletem em cada terreiro de Umbanda, em cada filho de Banda, até os dias de hoje?
E
Pai Antônio, que demonstrou desde logo a humildade e candidez característica da
Linha de trabalho dos Pretos Velhos, seguiria sua missão de sábio curador, além
de encantar a todos e mostrar ao mundo do início de 1900 que as correntes
estavam verdadeiramente quebradas, que um mundo novo, livre e igualitário tinha
de surgir por toda parte, e que a vibração de um preto velho tinha também
direito e Luz suficientes para estar presente tanto qualquer outra, nas searas
da manifestação do espírito para a Caridade.
Sabe-se
que Zélio poderia trabalhar com 147 orixás, dentro das 7 linhas, mas apenas
dois se manifestaram pelo que se tem notícia. Não Orixá como Força, mas como
representantes das linhas, 21 orixás para cada uma das Sete Linhas, de acordo
com a UBD (Umbanda de Linha Branca e Demanda). Certamente o que não chega até
nós, não é porque não exista, mas porque não estamos preparados para conhecer a
chave destes mistérios, levantar o Véu destes portais.
Pos
Alex de Oxóssi
Fontes
Pesquisadas:
Comunidade Povo de Aruanda
Blog Umbanda Sem Medo
Blog Registros de Umbanda
Souza, Leal. “O
Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”
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