Certo dia, no fundo da sua vida você sentiu uma necessidade qualquer de
algo desconhecido, olhou ao redor e viu que estava tudo bagunçado, com as
coisas fora do lugar, jogadas pelo chão, sobre suas prioridades, até então
sufocadas.
Eis que o acaso resolveu um dia bater à sua porta e em meio a essa
baderna, você abriu. Esse acaso se fez convite à mudança de vida. Você, cansado
e sem ver o sol nascer a tempos, aceitou. Este convite te levou a mim, embora
você não soubesse. Não sabia porque suas prioridades estavam transformadas em
bolor e as coisas tolas da vida tomaram proporções maiores. Tanta proporção que
virou "meio de vida" e objetivo insano a ser perseguido.
No data marcada do convite, você chega soberbo, orgulhoso e senhor de
si, pois fora convidado como se fosse alguém de grande importância, o que
realmente era, mas uma importância de valores invertidos na tosca visão do
mundo. Para o convite do acaso, sua importância era outra.
E eu ali estava. Fora de foco e à parte aos seus gracejos. Sou pequeno,
sem dimensão estelar, mas quis Alguém que fosse eu a lhe falar. Acabados os
festejos, você bate em retirada... mas só seu peito sabe o quanto arfa, pois
após todo o momento passado, lembra-se que se faz hora de voltar para a bagunça
que havia deixado sua vida.
E agora?
Você resolve voltar àquele lugar, pois no dia do convite você se
sentira bem disposto. Você resolve voltar a este local. Quando você volta,
foi a mim que você foi encaminhado. Quando me viu, olhou-me desconfiado de
cima a baixo, com extra auto-confiança e superioridade que alguém, por
algum motivo, ensinou que deveria ter. Mesmo respeitosamente, tendo em vista a
boa educação recebida, você era um ainda convidado, pois fora assim que fora
aparecer lá e eu, o apêndice de anfitrião.
Mas, por obra do acaso, resolvi falar algumas coisas e comecei a notar
que quanto mais lhe falava, menos você conseguia articular sua verborragia.
Parecia que eu lhe dizia coisas que você não acreditava que mais ninguém
soubesse ou que poderiam até existir na sua vida, mas sendo apenas tratada
de forma hipotética.
E no fim desse dia, após minhas palavras, você resoluto, concordou e me
abraçou. Eu sorri e você se foi. Se foi, mas com um coração renovado, alegre e
de novo rejuvenescido. Nunca, na sua sã consciência você poderia imaginar que
eu pudesse falar tantas coisas... logo eu, um espírito que é vítima do
preconceito hipocrático da sociedade, pois ela se vale de meus serviços quando
precisa... um pequenino Exu.
No correr dos dias a sua vida deu uma bela harmonizada, situações
complicadas e constrangedoras deixaram de existir como que por mágica. Mágica
não, irmão! Magia.
Magia.
A Umbanda trabalha com a magia.
Mas não com a bruxaria.
E sim evidencia.
A manipulação da energia.
Com o que a Natureza oferta dia a dia.
Sempre com impressionante maestria.
Estamos ligados a uma religião liberta de dogmas e expansiva em
espiritualidade, atratora em amor, geradora de vida e ordenadora de atitude. A
Umbanda é religião que religa o homem com Deus através dos Sagrados Orixás que
emanam suas portentosas energias, e nós, guias e trabalhadores desta
seara, nos fortalecemos, vibramos e orgulhamos disso porque não somos pequenos
como se pensa ou age, não somos resolução ou solução barata de última hora para
agentes materiais.
Nós somos espíritos manifestados para a prática da caridade, conforme
ensinou o Caboclo das 7 Encruzilhadas. E nós, Exus, não somos zombeteiros e a
toas das ruas, nem as Pomga-Giras são mulheres de vida fácil. Não, todos nós
somos agentes da vida dura, porque trabalhamos na sua vida, mergulhados em boa
vontade, dentro do seu carma, a fim de que sua vida melhore e seja expansiva em
valores reais.
E, por favor, não me dê nada em troca. Sou um Exu e não um agiota. A
graça de Deus me basta e por isso dou de graça o que de graça recebi.
Isso tudo eu quis dizer e você não quis escutar.
O motivo foi porque aqueles antigos anseios voltaram à tona e com
proporção avassaladora e seus interesses, hoje, são maiores que as suas
necessidades, que você não enxerga e nem sente. O essencial é invisível aos
olhos, consta no belíssimo Pequeno Príncipe... só se vê bem com o coração!
Eu tentei te dizer isso, mas você não quis escutar.
Sua vida se tornou nova tormenta e quando pensa em me procurar, mais uma
vez não ouve o que eu digo e desses interesses que a nada te levarão não
quer escutar, achando que é este o caminho que deve trilhar. Afinal, quem sou
eu? Apenas um agente das encruzilhadas que pode resolver problemas, essa é a
sua concepção.
Quando falo em necessidade, seus ouvidos filtram interesse. E quando
falo em mudança de vida, seus ouvidos traduzem "bens". Quando falo em
libertação, seus ouvidos exclamam "aprisionamento à matéria" e quando
falo em trabalho, eles questionam se é carma.
Daí, vendo que você busca o efeito enquanto tudo que te falei foi sobre
a causa, o que mais posso fazer, sendo um Exu, senão dar-te uma injeção
psíquica de palavras duras, mas com pano de fundo a mexer digna e positivamente
em seu brio? Que posso fazer a não ser vitalizar seu senso de sobrevivência e
desestruturá-lo quanto a sua superioridade, conquistada em castelos de areia, quando
ainda em parcas eras se julgava nobre imortal?
Mas... será que meu tiro sairá pela culatra, pois se ainda traz essas
parcas eras tão impregnadas, pode ser que não mais resolva escutar aquilo que
já foi proveito e hoje encara como enfadonho e repetitivo. Sim, pois falo preto
e você quer branco, sem ter o trabalho de se propor a clarear.
O que farei eu, um trabalhador que carrega um "fardo" que me
sustenta, mas que mobiliza as vidas, se você definitivamente fugir de minha
alçada? Sim, digo fuga, pois o acaso te levou até mim porque sua programação
encarnatória tem um propósito e até agora você não a abraçou, achando que pelos
caminhos funestos que escolheu a encontrará. E quando o "acaso" te
levou até a minha frente, o mesmo pequenino espírito que você julgou e não sei
ainda se mudou seus conceitos, mal sabia você quão grandiosa era a minha
tarefa, pois grande é o trabalho que desempenho na minha pequenez, tão
pressuposta pelos homens.
Mas, caso você fuja, não de mim, mas da verdade que ante a ela Pilatos
se calou, nada mais poderei fazer a não ser empenhar-me mais em te salvar.
E aí, a vida... sim, a boa e velha vida, onde nela trafega o seu carma, agirá
de forma nua, fria e neutra. E, quem sabe, seja eu novamente solicitado
"pelo acaso" para desempenhar esse papel. Sim, eu, o Exu.
Simplesmente um Exu.
Simples porque é simples a forma de ver a vida, de como tenta incendiar
a vida dos mornos e frívolos, para que estes sejam sal da terra, ou então
apagá-los de vez para não ocupar um lugar indevido no cenário da vida. Simples
porque nada tem de complexo, contudo trabalhoso, ser motivador de vidas e
desmotivador das mesmas. Apenas agir, sem sentir, pois a Lei assim exige que se
cumpra.
O Exu não cruza os braços... ele neutraliza seu tridente, embainha sua
espada, guarda seu punhal, se recolhe em seu campo de força e deixa tudo...
tudo entregue nas mãos da Lei.
E ali espera as ordenanças seguintes, para o cumprimento da mesma.
Espero dizer até breve, para não ter que lamentar sobre a fuga daqueles
cujo o acaso divino lhes bateu a porta e lhes ofereceu ajuda para renascerem
nesta mesma vida.
Por Exu
das Sete Encruzilhadas das Almas
Mensagem recebida psicograficamente pelo médium Julio Cesar, Pai Pequeno
do Templo Espiritualista do Cruzeiro da Luz.
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