Falar de Exu não é uma fácil tarefa, porém,
inquirir, pesquisar, procurar sua origem e sua finalidade é o direito de quem
quer aprender. Há uma nuvem cobrindo a distância do seu princípio até nossos
dias. Nesta caminhada lenta da humanidade ganhastes muitas formas e fostes
batizados com inúmeros nomes: no Jardim do Éden, eras uma serpente que
introduziu o primeiro pecado no seio da humanidade; eras o agente mas não o
mal, pois o livre arbítrio nos dá o direito de optar. De Adão e Eva proliferou
a humanidade e, com ela, os seus deuses, seu medo e sua curiosidade.
Ah! meu irmão de longa caminhada...
Para Moisés você foi o cajado que apoiava o corpo
nas fatídicas andanças, mas se necessário, você seria também a assustadora
serpente. Para os fenícios, você foi Molock, espírito tenebroso, cujo interior
era uma fornalha ardente onde os seus seguidores depositavam suas oferendas;
para a Pérsia de Zoroastro, atendias pelo nome de Arimânio, espírito angustiado
e vingador!...para o egípcio, você era Duet, uma guardião que castigava, que
punia para, depois de punido, ser entregue para o Deus da Luz e Serenidade;
você era a ligação entre o homem e a mente, a morada de Osíris que é o Deus do
amor e da criação. No Egito, você também era Tifon ou Aprites; a China milenar
te deu o nome de Digin; Ravana para o hindu; os escandinavos de chamavam
Azalock. Em cada povo uma personalidade e uma vibração diferente. Para o nosso
índio brasileiro, você atendia por vários nomes e várias atuações: Cairé é um
fantasma que aparece na lua cheia para punir os maus; Catiti é outro, só
visível na lua nova e atrapalha a pesca. Jurupari é o mau espírito que traz
pesadelo; Curuganga oficia como assombração.
Até então, você com múltiplas funções e
personalidades, não era mais que uma energia, uma força. Até 1984 anos atrás,
você era visto e sincretizado como guerreiro, como um homem. Para o mau
artista, uma grotesca obra.
O hebreu te deu novas formas e, na pia batismal,
recebestes os nomes: diabo, demônio, Lúcifer. Pelo pincel do pintor ou o formão
do escultor, na metamorfose dos interesses de uma religião que amedronta e não esclarece,
te fizeram um monstro... Como monstro, você defendia com maior eficácia os
interesses econômicos de seu criador. Causa-nos revolta vê-lo assim
desfigurado!
A infâmia e o mau gosto do artista que te fez um
agregado de homem e animal, com longos cornos e pés caprinos, é uma afronta ao
próprio Criador!
Ah! meu amigo... A tua imagem hoje, nada mais é
que o reflexo, a exteriorização de consciências mal forjadas.
São dois mil anos que o padre vem te projetando,
programando o subconsciente da pobre humanidade. Ele afirmou que Exu era o
diabo e assim se propagou, assim ficou... Nós só conhecíamos o catolicismo como
religião dominante. O padre era sábio, o doutor, o mentor enfim... e ficaria
assim se ao lado da religião não existisse a história.
O diabo é um rival de Deus, um anjo rebelde,
Satanás e falsário que tentou Eva e perdeu Adão. Tentou Caim e promoveu o
assassinato de A bel ; tentou Jesus, no monte e levou Judas à traição, Jesus
não cedeu à sua tentação, prova eloqüente do direito de optar; respeito sagrado
ao livre arbítrio do homem.
Forçam-nos a pensar que você é o executor porém,
não é a causa nem efeito; é sim um elemento, uma vibração, que serve de acordo
com a vontade do pedinte ou a licença do patrão. Será isso ou não?... Sabemos
que o índio e o negro não conheciam um rival de Deus. Não há um concorrente das
Leis Divinas!... um diabo, um Satanás... há sim, uma corte de seres inferiores
que, por isso mesmo, estão a serviço de seres superiores, aos quais obedecem e
servem sem contestar.
Na magia do negro, Exu é um Deva, um Orixá... é um mensageiro, o guarda, o policial, o moço de recado que vive na rua, orientando, servindo de intermediário entre o Orixá e o homem.
Na magia do negro, Exu é um Deva, um Orixá... é um mensageiro, o guarda, o policial, o moço de recado que vive na rua, orientando, servindo de intermediário entre o Orixá e o homem.
Entendemos que o diabo nos ludibriou!...
O negro não sabia que era o diabo, sabê-lo-ia o
bugre dispondo de uma mitologia inferior?... Não tinham uma noção semelhante. O
bugre conhecia o Caissoré, Curupira, Curuganga, Anhangá, entidades que se
tornam pesadelos, que dão maus sonhos e que estorvam a pesca e a caça, contudo,
o homem pode amansá-los, dando-lhes pequenas oferendas. Quem ameaçaria o
diabo?... Este pretenso rei será tão porco, tão mesquinho que se venda por
alguns bicos de vela? Será isso um rival de Deus?... Um diabo, um Satanás?...
O bugre e o negro não conheciam esta figura
hebraica, pregada e propagada aos quatro cantos do mundo pelos padres e seus
discípulos.
O negro não servia a interesses financeiros;
perante Deus não existe rival. ELE é a Criação, o Princípio e o Fim! Para cada
elemento ELE criou uma força dominante, um encarregado, um guardião, um Orixá
que rege o plano Cósmico mas, criou também, o intermediário, o EXU, o Deva, o
Orixá Menor, que atua em harmonia com seu gerente ou seja, o Orixá.
Lá no alto está a Energia Cósmica, Oxalá, Iemanjá,
Ogum, Oxóssi e outros; no plano intermediário, Exu-Tameta, Exu da Rua, Exu-Odé,
da encruzilhada, Exu-Adé, do chão, Exu-Ibanan, dos montes, Exu-Itatá, das
pedras, Exu-Ibê, do terreiro, Exu-Gelu, das estradas longas, Exu-Baru, do
escuro, Exu-Bara, este, puramente africano.
Senhores, a minha dissertação talvez não seja
erudita... tão inteligente... porém, é honesta e eu afirmo: aquele grupo de
demônios avermelhados, guampudos, com pés caprinos e barbas em pontas, olhos
saltados, dentre agressivos... não é EXÚ!
Aquilo é uma concepção primária, falsa, mórbida,
velhaca, indecente, ridícula!... É uma agressão à nossa inteligência; uma
infâmia, um disparate, uma ofensa ao Divino Criador! Não podemos aceitar essa
assimilação!
Este demônio hebreu não é o Plutão do grego, não é
o Tifon do egípcio, não é o Arimam do babilônio, não é o Digin do chinês, não é
o Ravana do hindu, não é o Bará do negro, não é o Caissoré do bugre.
Por Deus, não é nada disso!...só pode ser fruto do interesse econômico de
escritores mal informados, sem decência ou respeito pelo belo.
Aqui dou meus aplausos àqueles escritores que
tiveram a honradez de procurar um novo sincretismo, tentando introduzir uma
imagem condizente com o altruístico trabalho desses incansáveis irmãos EXUS.
Por Pai de Santo Andir de Souza
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