Exu é uma linha de
trabalho bastante complexa e polêmica, e devido a falta de informações e
preconceitos que foram se formando durantes os anos, desperta muita curiosidade
entre os umbandistas e demais estudiosos da Umbanda.
Fazemos logo de
início um alerta: É muito importante não misturarmos os conceitos da Umbanda,
com os conceitos do Candomblé e nem da Quimbanda.
Iniciamos, portanto
nosso estudo com algumas premissas:
1) Exu na doutrina de
Umbanda é considerado um Guardião.
2) Existem visões
totalmente diferentes entre os cultos de Umbanda, Quimbanda e Candomblé.
3) Muito diferente é
o conceito de Exu, espírito trabalhador da Umbanda e da Quimbanda, do Exu
Orixá.
4) Na Umbanda
trabalhamos com a linha de Exu, ou seja, espíritos que atuam e possuem trabalho
bem definido dentro da religião de Umbanda.
5) Exu no Candomblé é
um Orixá, idêntico aos demais orixás, irmão de Ogum e Oxossi. Podem ser
entendidos como forças universais.
6) Exu na Quimbanda
tem um papel bem diferente do Exu na Umbanda.
Para nós tanto faz
chamarmos de Quimbanda ou Kimbanda.
Neste caso estamos
nos referindo a outro tipo de culto, diferente da Umbanda e que não segue a lei
da Umbanda, um culto onde não existem “limites” morais para os “trabalhos
espirituais” realizados.
Iremos aos poucos
elucidando cada uma das questões apresentadas acima.
Hoje quero iniciar
esta série de textos com um mito de Oxalá e Exu.
Este mito pode ser
encontrado no livro “Mitologia dos Orixás” de Reginaldo Prandi, às fls. 40.
Segue abaixo o mito
na íntegra.
Exu ganha o poder
sobre as Encruzilhadas.
Exu
não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem
artes, nem missão.
Exu
vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então
um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia
à casa de Oxalá todos os dias.
Na
casa de Oxalá, exu se distraia,
vendo
o velho fabricando os seres humanos.
Muitos
e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas
ali ficavam pouco.
Quatro
dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam
oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam
sua obra e partiam.
Exu
ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu
prestava muita atenção na modelagem
e
aprendeu como Oxalá fabricava
as
mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as
mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante
dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu
não perguntava.
Exu
observava.
Exu
prestava atenção.
Exu
aprendeu tudo.
Um
dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os
que vinham à sua casa.
Para
fica ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá.
Cada
vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.
Oxalá
não queria perder tempo
recolhendo
os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá
nem tinha tempo para as visitas.
Exu
tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exu
coletava os ebós para Oxalá.
Exu
recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exu
fazia bem o seu trabalho
e
Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim,
quem viesse à casa de Oxalá
teria
que pagar também alguma coisa a Exu.
Quem
estivesse voltando da casa de Oxalá
também
pagaria alguma coisa a Exu.
Exu
mantinha-se sempre a postos
guardando
a casa de Oxalá.
Armado
de um ogó, poderoso porrete,
afastava
os indesejáveis
e
punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exu
trabalhava demais e fez ali sua casa,
ali
na encruzilhada.
Ganhou
uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu
ficou rico e poderoso.
Ninguém
pode mais passar pela encruzilhada
sem
pagar alguma coisa a Exu.
Vamos reinterpretar
este mito, através de uma visão umbandista.
Naturalmente que
iremos nos referir a linha dos Exus, espíritos e não ao Orixá Exu da Nação.
Iremos destacar
alguns trechos do mito acima apresentado:
“Exu
não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem
artes, nem missão.
Exu
vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.”
Entendemos que todos
os Exus que trabalham em Terreiros de Umbanda, possuem compromissos sérios com
a lei da Umbanda. São trabalhadores da espiritualidade, chamamos estes exus de
Exus de Lei.
Nem sempre estes
espíritos foram Exus de Lei, existiu uma época em que eram espíritos que
estavam perdidos, sem nenhum compromisso com o bem, com a lei divina, com a
evolução e com a espiritualidade. É isso o que diz este trecho “Exu
vagabundeava pelo mundo sem paradeiro, Exu não tinha missão”.
Vamos continuar com a
leitura:
“Então
um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia
à casa de Oxalá todos os dias.
Na
casa de Oxalá, exu se distraia,
vendo
o velho fabricando os seres humanos.”
Aqui vamos, por
analogia, chamar de Casa de Oxalá o Terreiro de Umbanda.
Todos sabem que
praticamente não existe Terreiro de Umbanda que não tenha no alto, em cima do
Congá uma imagem de Oxalá.
Oxalá na Umbanda é
sincretizado com Jesus, e com certeza é o principal orixá cultuado na Umbanda.
Podemos afirmar que
todo Terreiro de Umbanda é considerado uma Casa de Oxalá, uma casa de caridade,
de bênçãos, de amor e espiritualidade.
Voltando ao texto do
mito, entendemos então que estes espíritos que vagavam pelo mundo, sem rumo, se
aproximaram do Terreiro de Umbanda, e aqui podemos estender o conceito de Terreiro
para a própria Umbanda.
Estes espíritos
vieram para a Umbanda, e passaram a observar o que se fazia dentro dos
Terreiros.
Continuando a leitura
do texto:
“Muitos
e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas
ali ficavam pouco.
Quatro
dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam
oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam
sua obra e partiam.
Exu
ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu
prestava muita atenção na modelagem
e
aprendeu como Oxalá fabricava
as
mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as
mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.”
Muito são os
espíritos que se aproximam dos Terreiros de Umbanda, se aproximam da Lei de
Umbanda, mas nada aprendem e se afastam.
Continuam a vagar sem
rumo pelo espaço.
Exu por sua vez
continuou no Terreiro, observou, prestou atenção, teve paciência, estudou,
aprendeu com o Mestre Oxalá.
“Exu
não perguntava.
Exu
observava.
Exu
prestava atenção.
Exu
aprendeu tudo.
Um
dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os
que vinham à sua casa.”
Estes espíritos que
ficavam, que observavam, que estudavam, que prestavam atenção e que adquiriram
o conhecimento maior, ficaram nos Terreiros.
Foi então lhes dado a
missão de cuidarem das encruzilhadas, por onde passavam todas as pessoas que se
dirigiam a Casa de Oxalá.
São as tronqueiras
existentes em todos os Terreiros e que ficam exatamente na entrada do Terreiro,
lugar por onde deve passar todos os que entram e todos os que saem.
“Exu
mantinha-se sempre a postos
guardando
a casa de Oxalá.
Armado
de um ogó, poderoso porrete,
afastava
os indesejáveis
e
punia quem tentasse burlar sua vigilância.”
Aqui verificamos qual
a função do Exu da Umbanda, que é a da proteção ao Terreiro, a Casa de
Oxalá.
São os Exus os
Guardiões do Templo, os Guardiões da Lei da Umbanda.
“Exu
trabalhava demais e fez ali sua casa,
ali
na encruzilhada.
Ganhou
uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu
ficou rico e poderoso.
Ninguém
pode mais passar pela encruzilhada
sem
pagar alguma coisa a Exu.”
Verifica-se no texto
que os Exus passaram a ser os grandes trabalhadores da Umbanda e passaram a ter
um papel muito importante na Umbanda.
Finaliza o mito
afirmando que Exu ficou sendo o responsável por todas as encruzilhadas.
Finalizamos este
primeiro texto destacando algumas características importantes do Exu de Lei, o
Guardião da Umbanda:
1)
Um dia foi um espírito sem rumo, que provavelmente trabalhava negativamente, ou
era dominado por espíritos negativos.
2)
Em um determinado momento se aproximaram da Lei da Umbanda e mudaram sua forma
de pensar e agir, de “vagabundos” passaram a ser os maiores trabalhadores.
3)
Foi designado a estes espíritos a função de tomarem conta da Casa de Oxalá, ou
seja, tomarem conta do Terreiro de Umbanda, da Lei de Umbanda.
4)
São espíritos fortes, e quando necessário, podem usar de meios duros para
afastarem e punirem os indesejáveis.
5)
São os espíritos responsáveis por todas as encruzilhadas.
Encerramos aqui esta
rápida reflexão sobre o Guardião, nos próximos textos estaremos aprofundando as
questões abordadas acima.
Saravá Exu das
Sete Encruzilhadas!
Saravá Umbanda!
São Vicente,
23/07/2013
Por Manoel Lopes –
Dirigente do Núcleo Mata Verde
*Texto
adaptado para o nosso Blog Exu e Pomba Gira na Umbanda.
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